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Resiliência e Burnout - extremos na vida de um líder

Coluna Observatório Batista - Lourenço Stélio Rega


A Síndrome de Burnout é outra ponta do que geralmente se incentiva muito hoje, que é a resiliência, isto é, a capacidade de absorver os impactos da vida e do trabalho. Em geral, líderes e executivos são avaliados pelo nível de resistência a crises, volume de compromissos, capacidade de "se levantar" depois de situações extremas. Isso é resiliência.


O que não se tem mencionado é que o outro lado ou "ponta" disso é a Síndrome de Burnout, em que a pessoa chega a um estado elevado de desgaste com recuperação bem complexa, uma vez que o volume do "estoque" de energia pessoal começa a entrar em colapso.


Dentre os diversos mecanismos do nosso corpo, os especialistas da área de saúde mental explicam que, do ponto de vista clínico, durante momentos de elevada atividade e estresse, entre outras ações, o nosso cérebro estimula a produção de adrenalina e envia instruções para as nossas glândulas suprarrenais, para que produzam cortisol e consigamos "dar conta" da tensão e pressão. Com adrenalina e cortisol na corrente sanguínea há aumento do ritmo cardíaco, da pressão arterial, produção de ácido no estômago, etc., o que pode nos prejudicar. Para evitar isso, o cérebro equilibra com a estimulação da produção de substâncias chamadas de opioides, da classe dos opiáceos, com atuação psicoativa, promovendo a insensibilidade à dor (analgesia) e permitindo que continuemos a enfrentar as pressões, tensões ou situações de emergência. Daí uma pessoa, depois de um acidente de carro, conseguir ajudar muitas pessoas e, ao fim, ela própria acaba decaindo ou desmaiando, pois há um limite em que o corpo produz essas substâncias.


O risco está no fato de que quando estamos submetidos continuamente a estados de pressão, estresse ou mesmo volume excessivo de atividades sem o devido repouso para que haja reposição na rede neural pela plasticidade cerebral, poderemos entrar em estado de desgaste elevado, gerando o Burnout.


Deus, o Criador, dotou-nos destes recursos, mas, muitas vezes, poderemos avançar além do próprio limite da nossa natureza e promover desgastes não apenas físicos, mas também neurológicos, mentais, emocionais e também espirituais. Dentro das "especificações" que Deus estabeleceu para a natureza e vida humana temos o repouso, o descanso. Não há como recuperar energia mental e emocional sem isso.


Então, o que se está fazendo com executivos, líderes e até mesmo pastores, vai além do que o próprio Criador estabeleceu para a nossa natureza. O pior é quando o próprio líder não segue esses limites, imaginando que tem energias suficientes. Em geral, quando se percebe o estrago, a situação já está em nível avançado. Então, esse cuidado faz parte de decisão preventiva para a manutenção da vida e sucesso futuro do líder. Manter-se ocupado é o mal do século, mas desconsidera as especificações da natureza que Deus estabeleceu. Depois de intensa atividade, Jesus faz um apelo aos discípulos "Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto (...)" (Mc 6.31)

No campo da Somatoética (ética do corpo) do Novo Testamento, o nosso corpo é o santuário de Deus, portanto, devemos cuidar dele como gestores da nossa saúde, não apenas espiritual, mas também mental, emocional e física. Isso significa gerir o que entra em nossa mente (Filipenses 4.8), que irá também contribuir para a nossa estrutura mental, afetiva e mesmo relacional. Também gerir o nosso tempo e prioridades (Efésios 5.16).


Isso vai mais longe, pois aos líderes da Igreja, Paulo indica a necessidade, entre as características naturais da liderança, de cuidar da sua família (I Timóteo 3.4-5). Aliás, o próprio apóstolo nos apresenta a escala de prioridades que Deus tem para o nosso bem-estar - eu e Deus, eu e meu matrimônio, eu e minha família, daí é que venho eu e o meu trabalho (incluindo o ministério). Depois disso, estamos preparados e com saúde total para a batalha espiritual (Efésios 5.16-6.20). Pena que há pastores e líderes de outras profissões que colocam o trabalho em primeiro lugar em relação ao matrimônio, à família e até mesmo em relação à sua própria saúde. Os resultados disso têm sido desastrosos, mesmo porque esse estilo desconsidera tais princípios bíblicos. Assim, ter sucesso no ministério ou profissional, mas fracasso na saúde, no matrimônio e na família, é contraditório, não é exemplar e nos desvia da alegria de Deus.


Ainda mais, os dois grandes mandamentos (Marcos 12.28ss), são retratados em três níveis de relacionamento - e nesta ordem - amar a Deus sobre tudo, a mim mesmo e ao próximo como a mim mesmo (amor reflexivo). O amor a mim mesmo aqui não é algo ligado ao egoísmo, mas ao cuidado da nossa identidade, autoimagem, de tudo o que somos. Projetaremos a nossa imagem no relacionamento com nosso próximo (Romanos 12.3). Isso também é saúde - a relacional - que refletirá também em nossa própria saúde, por isso, é o amor reflexivo.


Desrespeitando os princípios da natureza, que Deus mesmo estabeleceu, trazemos consequências danosas para a nossa saúde em vários sentidos. Para o líder, seja no ministério ou não, estar pronto para os diversos desafios torna-se imperativo e o cuidar de si mesmo é prioritário dentro da escala de prioridades que Deus estabeleceu para nossa vida. Isso tudo nos levará ao estado de prontidão, discernimento, de modo a nos preparar para defrontar os diversos dilemas e desafios do processo diário da liderança, com resiliência e elevados índices de sucesso.

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