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Conselhos de um Psiquiatra para quem deseja ser pastor ou líder cristão



Texto sugerido pelo Conselho para leitura.



Reflexão de Eclesiastes 11.9 -


Já faz mais de dez anos que Deus tem me dado a oportunidade de atender líderes cristãos de diferentes denominações com níveis diversos de adoecimento emocional.


Nestes anos, pude ver atitudes, comportamentos e escolhas que ao meu ver são grandes gatilhos para um ministério frustrante, adoecido e com sequelas para líderes e seus familiares.


Neste ínterim, talvez de maneira pretenciosa, resolvi fazer uma lista de alguns conselhos, principalmente para os jovens (ainda não tão moldados), que hoje almejam o ministério como um chamado para suas vidas.


Já adianto que a lista é também para mim.


1) Mostrem suas fraquezas. Com o tempo, aprendi a admirar os líderes inseguros, frustrados, sinceros, depressivos e cheios de dúvida. Os mais perversos que atendi eram os com respostas prontas para tudo, com convicções inabaláveis, sempre "cheios de Deus" e com um ar de espiritualidade vazia que inibia um contato mais íntimo. Usavam de uma espiritualidade afetada para esconder sérias doenças emocionais. Tenham medo dos "muito crentes", dos sempre "cheios de fé" e dos que frequentemente tem uma "revelação espiritual" na ponta da língua.


2) Avaliem quem está ao se redor. Não se iludam, líderes cristãos vivem rodeados de pessoas para eventos sociais e eclesiásticos mas tem poucos amigos e confidentes. Me assusta que as vezes é diante de um Psiquiatra que os líderes falam pela primeira vez de seus problemas e vicissitudes. Estar rodeado de gente não é sinal de estar aprovado por Deus; lembrem-se que celebridades de diversas áreas tem seguidores (físicos e virtuais) mesmo que vivam uma vida fútil e cheia de frivolidades. Tenham amigos com os quais você possa compartilhar suas dúvidas, angústias, imperfeições, tentações e compulsões mais íntimas, sem medo de ser julgado.


3) Não use o diabo como álibi. Ele existe e é atuante, mas, normalmente somos tentados por nossas próprias concupiscências. Você sempre será tentado a atribuir ao diabo responsabilidades e erros que são seus. É tentador buscar soluções mágicas em inúmeras sessões de "batalha espiritual" e libertação, sem olhar para dentro de si e aceitar que há processos na alma que precisam ser tratados. Nossos maiores "demônios" são nossas fantasias e fortalezas da mente, que necessitam de um longo prazo de luta e dedicação para serem "exorcizados".


4) Cuidado com os números. Números são frios e trazem ansiedade. Não meça seu ministério pelo crescimento numérico e tampouco se angustie se ele não ocorrer. Da mesma forma, não abra mão de suas convicções teológicas ou busque soluções de marketing eclesiástico para promover um crescimento artificial que só lhe trará sofrimento físico e emocional. Vi muitos que em busca de um crescimento numérico a qualquer custo, longe de uma verdadeira intimidade com Deus, se tornaram frios, depressivos ou ditadores de comunidades regidas pelo medo. Não se deprima com números aparentemente fracos, creia que se estiver fazendo o que Deus mandou ele dará uma comunidade saudável compatível com sua estrutura emocional e espiritual. Há muita angústia envolvida em querer crescer um ministério a qualquer custo.


5) Se dedique a família. Atendi vários líderes em que presenciei uma incongruência entre suas vidas nos púlpitos e dentro do lar. O ministério saudável não pode produzir filhos e esposas machucadas e revoltados com Deus ou Igreja. Conheço vários filhos de pastores e líderes que tem ataques de pânico se simplesmente passarem na porta de uma igreja. São vítimas de pais "cristãos" que, com a desculpa de que estavam servindo a Deus, trocaram minutos preciosos de conversa, amizade, brincadeira e diversão com os filhos por reuniões ministeriais que normalmente não levam a nada. Há esposas que chorando me dizem querer serem casadas com o esposo que está no púlpito e não com o que está dia a dia dentro de casa. Uma família equilibrada será sempre um bom termômetro de uma vida abençoada por Deus.


6) Examine-se frequentemente. Tenha em mente que uma vida emocionalmente doente não irá gerar uma espiritualidade saudável e vice-versa. Pastores doentes irão produzir uma comunidade igualmente doente, fragilizada e contaminada por emoções que distorcem sermões e atitudes práticas no dia a dia pastoral. Saiba que há sempre uma transferência emocional explosiva entre o púlpito e os bancos da Igreja, para o bem ou para o mal. Sermões duros, cheios de cobrança e desprovidos da graça podem esconder emoções desequilibradas por parte de quem os pregam.


7) Humanize-se! Tenha momentos de lazer em família, mas também individual. Pratique esportes e lembre-se que biblicamente somos corpo, alma e espírito. Não perca a oportunidades de cultivar hobbies e passeios que te desconecte em alguns momentos da realidade pesada do dia a dia e desperte em você uma certa puerilidade que lhe cure e humanize.


8) Cuidado com os extremos teológicos. O tradicionalismo em excesso, a erudição e o conhecimento bíblico seco e obsessivo podem lhe tornar um cristão chato, insuportável, insensível, vaidoso, pesado e distante de pessoas comuns que podem ser verdadeiramente abençoadas com o "conhecimento de Deus". Seja reformado, mas, seja também pentecostal. Não se iluda. A frieza tradicional desumaniza tanto quanto o misticismo pentecostal. Por outro lado, se pentecostal, não paute suas decisões emocionais em profecias, campanhas ou amuletos cristãos que no fundo só aumentam sua ansiedade e imaturidade.



Autor: Dr. Ismael Sobrinho, psiquiatra e estudante de teologia.

Igreja Batista Central

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