O Cristão e a política
- cbpioneira
- 26 de set. de 2016
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de ago. de 2024
“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Martin Luther King
Creio que tratando de política o cristão sofre três tentações:
A primeira tentação é fugir da política: “a missão do cristão é pregar o reino de Deus que não é deste mundo”. No tempo de Jesus, havia um grupo chamado “essênios” que pensavam assim. Foram para o deserto e lá faziam um trabalho social maravilhoso. Cuidavam dos pobres e dos doentes através de uma medicina apuradíssima, mas não se envolviam politicamente na cidade porque acreditavam que aquela sociedade estava corrompida, sem oportunidade de mudança. Tornaram-se apolíticos. Talvez essa seja a maior tentação da maioria dos cristãos: o afastamento e desinteresse dos assuntos políticos pelo estado de corrupção em que se encontram.
A Segunda tentação é aliar-se ao sistema político, perdendo a sua identidade. Foi o que os fariseus e sacerdotes fizeram. Conhecida “Troca de favores” (fisiologismo). Os sacerdotes cooperavam com o governo romano aceitando a sua política opressora de altos impostos em troca de “liberdade religiosa” e de benefícios e proteção. Hoje vemos muitos segmentos religiosos caindo na mesma tentação de aliar a governos corruptos em troca de favores pessoais ou eclesiásticos, como terrenos para igrejas, verbas para construção, e assim por diante. A Terceira tentação é a de lutar contra a política. Caracterizada por Judas e o grupo dos Zelotes que queriam uma revolução e acharam que Jesus seria esse “reacionário”. Política do “Se hay gobierno, soy contra!” são contrários a toda e qualquer iniciativa, críticos ferozes do governo e lutam contra o bom andamento das coisas. Não acreditam em diálogo, querem tudo a força. Creem que a mudança acontecerá quando eles estiverem no poder. Cristãos que acreditam num “governo evangélico”, num “partido evangélico”, que lutam por leis que privilegiam “o povo evangélico” esquecendo que o governo é laico e para todos.
Qual a atitude do cristão diante da política?
Primeira atitude é diferenciar política de politicagem:
A politicagem, segundo o dicionário Houaiss, é a “política de interesses pessoais, de troca de favores, ou de realizações insignificantes”. Mas política segundo o mesmo dicionário é “habilidade no relacionar-se com os outros tendo em vista a obtenção de resultados desejados”.[1] Ou segundo o dicionário Michaelis, a “arte ou ciência de governar”.[2] Juntando essas duas definições, poderia dizer que política é a maneira de governar e se relacionar com alguém, visando o bem comum. Política envolve o gerenciamento, planejamento e a participação em algo, em favor da “coisa pública” . Política está em todos os âmbitos da nossa vida e foi instituída por Deus para refrear o mal e fortalecer o bem, como diz Romanos 13. Somos seres políticos, mas devemos fugir da politicagem.
Segunda atitude é ser mais político do que partidário:
Como ser político, o cristão deve ser o mais interessado que se cumpra a justiça. Deve exigir dos governantes acesso à educação, saúde, segurança e moradia. Deve fiscalizar as ações do legislativo e do executivo. Deve votar em candidatos honestos e competentes e acompanhar suas ações políticas em seus mandatos. Deve orar pela paz e prosperidade na cidade (jr 29.7). O contrário é ser partidário. Aquele que luta pelos interesses de uma ideologia partidária e que apenas deseja o poder para manter o seu reino ou o reino de alguém que o beneficie. Seus interesses não são da justiça e a igualdade social, mas sim de um “projeto de poder”. O Cristão pode participar de um partido político, filiar-se e até concorrer a um pleito desde que esse partido tenha em suas bases ideológicas uma coerência com os princípios cristãos e que a sua candidatura tenha o propósito de servir a cidade, estado ou país para torna-los mais justos. Se esses partidos não agem de forma honesta e transparente, a sua desfiliação se faz necessária e urgente.
Terceira atitude é o engajamento político.
De acordo com Robinson Cavalcante, em seu livro Cristianismo e Política, as pessoas são politicamente classificadas em três categorias: alienadas, conscientizadas e engajadas [3] muitos dos cristãos são conscientes da importância da política mas têm dificuldade em estimular outros a seguirem uma vocação política por acreditarem ser um “ambiente de perdição”. A parábola de Jotão em juízes 9.8-15, mostra o perigo de desestimularmos a “vocação política dos cristãos”, o texto conta que em uma floresta, as árvores estavam em busca de um rei e fizeram o convite para três árvores que teriam algo para oferecer, a oliveira, a figueira e a videira, mas todas não quiseram servir à floresta, até que fizeram um convite para o espinheiro e esse aceitou prontamente, todas as outras arvores tinham frutos para oferecer, mas o espinheiro apenas espinhos, mostrando com isso que a frase de Platão é correta: “ O preço que o homem de bem paga por não se envolver com política é ser governado pelos mal intencionados.” O engajamento do cristão é benéfico para toda a sociedade pois somos o “sal dessa terra e a luz desse mundo.”. Agentes políticos cristãos ocupando cargos legislativos e executivos são de suma importância para o bem do povo, pois “ Quando os bons não se omitem os maus não tomam o poder”
Por isso precisamos clamar ao senhor para que levante cristãos com consciência política, para experimentarmos o que diz 1 Timóteo 2.1 a 4:
Antes de tudo recomendo que façam súplicas orações intercessões e ações de graça por todos os homens, pelo rei e por todos os que exercem autoridade para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica com toda a piedade e dignidade. Isso é bom e agradável perante Deus nosso Salvador que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.
Para que de eleição em eleição tenhamos um maior número de pessoas com postura e princípios cristãos ocupando esses espaços na sociedade em nome de Cristo. Uma geração de líderes como Gideão, Daniel ou José pode estar adormecida, é urgente despertá-la!
[1]Heni Ozi Cukier http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/risco-politico-global/2015/10/06/o-que-e-a-politica/
[2] http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=política
[3] Cristianismo e política – Robinson Cavalcanti pg 16
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